quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Texto publicado este mês em minha coluna no jornal Informativo, de Jequitinhonha



As Eleições e o Quarto Poder
 De gustibus non disputandum. Este provérbio latino significa, popularmente, o famoso “gosto não se discute”, espertamente utilizado por quem quer escorregar da boa e velha discussão. Não acho que seja inútil questionar com um indivíduo sobre as decisões do seu gosto pessoal, sobretudo, quando este gosto envolve o futuro de uma nação. Adianto, porém, que ao me referir a gosto não me refugio apenas no consenso humano, que elege sempre um bom e um mau, um ladrão e um mocinho. O que me interessa aqui também é alguma coisa mais que a preferência pessoal, algo que se baseie em princípios, embora poucos e elementares, incontestáveis. Isto é o que defende Winschester, professor de literatura inglesa na Universidade Wesleyana. E é isso que suponho que sai da área da crítica literária e se aplica à atual impressa brasileira.
O que vi nos últimos meses, estupefato, foi uma imprensa manipuladora e catilinária que fundamentada em acusações parciais, agiu como partido político e instituiu um perigoso quarto poder na nossa, ainda ingênua, república. Sim senhores e senhoras, moças e rapazes! Engana-se quem achou, como eu, que existiam apenas três poderes. No Brasil, Montesquieu foi vilipendiado por uma imprensa clériga, absolutista e golpista que se esconde por trás de falsos princípios democráticos para acusar a esmo a candidata governista Dilma Rousseff. E deu certo. Conseguiram um segundo turno. Agora, tentarão ganhar as eleições a todo custo. A campanha já começou. Denúncias requentadas sobre o caso Erenice retornam às páginas da Veja e da Folha de São Paulo e aos imperiosos veículos de comunicação da Rede Globo. E tenho a certeza de que não será só isso. Não sou nenhum Nostradamus. Mas, podem acreditar em minha previsão: virão mais denúncias vazias aí, do tipo “Dilma ordenou que cortassem a perna do Saci Pererê!”; “Time do Dunga foi sugestão de Dilma”; ”Dilma privatizou bochechas do Quico”; “Dilma foi amiga íntima de Judas”;”Dilma inventou a vuvuzela”...
Ironias à parte, o princípio elementar destas eleições brasileiras e, portanto, incontestável, é que a mídia, com raríssimas exceções (revista Carta Capital e Agência Carta Maior), apóia o candidato do PSDB, José Serra, mas, afirma, categoricamente, que não. Aí pergunto a vocês: por que a imprensa brasileira não faz como a imprensa americana, que declara, antes das eleições, quem apoiará? Por que a imprensa não dá o exemplo, já que se basofia de ser a porta-voz dos princípios democráticos? Convicto, então, de que gosto se discute sim e do compromisso do jornal Informativo com a democracia brasileira e, principalmente, com a liberdade, declaro meu apoio à candidata do PT, Dilma Rousseff, pois acredito que o modelo de gestão do PT conseguiu conciliar, imensamente, desenvolvimento econômico e desenvolvimento social. Além disso, o Brasil, com Lula, deixou para trás um complexo de colonizado e pôde conquistar sua cidadania internacional. Assim, eleger Dilma é votar no continuísmo e evitar que velhos fantasmas, como o do desemprego, das privatizações, da recessão econômica e do arrocho salarial retornem ao país. Votar em Dilma, acima de tudo, é acreditar em si mesmo e sepultar de vez o projeto FHC, a Dona Maria, a Louca, da política tupiniquim, que abandonou suas teorias sociológicas, fazendo com que a economia nacional se arrastasse nas migalhas do capital estrangeiro e que o brasileiro ecoasse um jeito cabisbaixo jamais visto.
Mas, apesar de ter esta posição confessa, não vou pedir aqui votos à Dilma, o que seria cômodo, uma vez que ela obteve 66,43% dos votos em Jequitinhonha. E tampouco quero aqui convencê-lo, amigo leitor, de que meu gosto deve prevalecer, embora ele tenha lá seus princípios poucos e elementares aos quais já me referi neste texto. O que quero, na verdade, é pedir que você tome cuidado com o que ouve ou o que lê. O que quero é que o povo cada vez mais discuta a política, colocando-a como assunto cotidiano. O que quero é que você assuma seu gosto e defenda-o, pois só assim evitaremos que a mídia, órfã da monarquia, institua-se como quarto poder na república e dite o que devemos fazer e como devemos pensar.

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