sexta-feira, 20 de maio de 2011

Texto deste mês de maio em minha coluna no jornal Informativo, de Jequitinhonha

Maria, a minha Mãe                                                                                               
Para Maria Lúcia Machado de Matos Silva, minha mãe.

Antes de todo gesto, lá estava você, gestando a véspera do amor, gestando-me criança, sempre criança. A sua criança que não cresceu e que você ainda ensina a dar os primeiros passos, segurando na mão para que eu não caia. Mãe é colo. Aprendi desde cedo. Um colo quentinho que põe a pirraça do pensamento e as dores da vida, mesmo dengosas e febris, para os sótãos do universo. Mãe une os versos. Mãe é poesia. Poesia e solução. Poesia e dissolução. Mãe é aliteração no nome. Mãe, Maria. Maria, Mãe. As Marias até que podem ser várias. Muitas. Mas, a minha Maria é Única, Plural, residente no Verso e no Verbo. A minha Maria senta na porta da rua e colore as estrelas com a cor rútila da admiração. A cor que só ela sabe usar. A cor que ela sabe de cor e salteado. Usa e abusa. Usa e abusa tanto que o seu tempo é o durante. E nesse durante, uso um verso do poeta José Machado de Mattos para defini-la: “Mãe é ‘Deus que te ajude’ olhando pro céu”. E mais que Deus te Ajude. Aumento a métrica desse verso Mãe. Mãe é vai com Deus. Sem se importar com a crença ou a descrença do filho. E sem se importar se Deus, indo com o filho, deixará de acompanhá-la. A proteção de Mãe não possui religião, só espiritualidade. Uma espiritualidade que vem de dentro, que vem do ventre e que anuncia, como o anjo Gabriel, que Mãe é saudade. A saudade minha e sua, leitor. A saudade dela. Só as mães para unirem as saudades do mundo, transformando-as em abraço. Aquele abraço apertado que desfaz choro e depois nos espia pelas janelas. Aquele abraço apertado que nos segue, independente da distância que nos encontramos.
Mães são assim. Um sim sempre pronto, sempre disposto. Maria é assim. Professora aposentada que nunca aposentou a pedagogia e o saber. Ela sabe o onde. E pedagogiza os fatos.  Ela é música. Milton Nascimento e Fernando Brant fizeram uma canção que parece ser para ela: “Maria, Maria/ É um dom, uma certa magia/Uma força que nos alerta”. “Maria, Maria/É o som, é a cor, é o suor/ É a dose mais forte e lenta.” Maria é mesmo Mainha. Uma força, um dom, uma magia que, sendo som, cor e suor, busca a dose mais forte e lenta de indefinível, de indefini-la. Os passos dela parecem dança. A comida dela abre o apetite do sossego. A beleza dela fixa nas coisas um silêncio sem dúvida e que não duvido, é sonho. Ela. A minha Mãe. A minha Mãe que é um pouco sua. A sua Mãe que é um pouco minha, compartilhadas no compartimento das declarações. Todos nós nos comovemos. E nos declaramos neste dia das Mães. É preciso nos declarar e nos comover. Não porque o capitalismo inventou uma data para saldar suas dívidas. Não! Devemos nos declarar e nos comover porque esquecemos de nos lembrar das cartinhas que escrevíamos quando éramos crianças. Nas cartinhas, repletas de sinceridade e sentimento, bordávamos o nome Dela e escrevíamos um “Eu te Amo” alegre e colorido. Foi nessas cartinhas que descobri algo que não me esquecerei. Foi lá que descobri com a inocência da criança que descobre que Mãe é Amor!