sábado, 14 de julho de 2012

E os novos poetas do Vale, cadê?


O filósofo alemão Martin Heidegger, em Unterwegs zur Sprache (A Caminho da Linguagem), utilizou-se das reflexões aristotélicas para diferenciar o uso da linguagem no mundo antigo e no fim desse mesmo mundo. Essas reflexões diziam que “as letras mostram o som da voz, esta mostra o que é experimentado na alma, que por sua vez mostra as coisas que atingem a alma”, e que “quando a voz mostra o experimentado na alma, esta é atingida pelas coisas”. Os novos poetas do Vale desapareceram. Perderam o som da voz e suas almas não são mais atingidas pelas coisas. A poesia que se faz atualmente na região e por quem nela nasceu sofre de insuficiência lírica, temática e estética. Falta leitura aos nossos novos candidatos a fazerem parte da plêiade valejequitinhonhense. Eles escrevem sem conhecer Safo, Catulo, Homero, Arnaut Daniel, Dante Alighieri, Camões, Petrarca, William Shakespeare, Apollinaire, Baudelaire, Rimbaud, Mallarmé, Verlaine, James Joice e brasileiros como Gragório de Matos, Sousândrade, Pedro Kilkery, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Oswald de Andrade, Haroldo de Campos, Augusto de Campos, Décio Pignatari e Arnaldo Antunes, entre outros. “O poema é a mediação entre uma experiência original e um conjunto de atos e experiências posteriores, que só adquirem coerência e sentido com referência a essa primeira experiência que o poema consagra”, alertou-nos Octavio Paz, no livro “O Arco e a Lira”. A nova geração do Vale produz uma poesia com métrica em torcicolo e sem novidades temáticas ou estéticas. Ademais, seu lirismo não mistura a experiência original e posterior e, por isso, o elemento datável do poema e seu começo absoluto se perdem, prevalecendo versos repetitivos e circunlóquios. Perdeu completamente o que T.S Eliot chama de “harmonia entre o antigo e o novo”. E isso torna essa geração pessoal em demasia, pois habitualmente são inconscientes onde deviam ser conscientes e conscientes onde deviam ser inconscientes. A poesia é muito mais do que liberar emoções. É um fugir-se delas.
É preciso seguir a lição de João Cabral, o arquiteto das palavras: sair do poema “como quem lava as mãos”. Os novos poetas do Vale necessitam sair de seus poemas. Hoje, a única exceção, aquela que sai do poema, é a Mariana Botelho, de Padre Paraíso. Uma grata revelação que produz uma linguagem que transita entre o som, o sentido, o verso e a prosa. O resto é regra. Continua no poema e se sufoca nele. O maior exemplo da falta poética dos novos poetas do Vale são o livro “Antologia Poética do Vale do Jequitinhonha”, do qual, inclusive, participei. E a noite Literária do 29º Festivale, ocorrida em Jequitinhonha, ano passado, da qual participei também, como jurado.  Ambos comprovam que os novos poetas de nossa região esgotaram o verbo e cansaram o signo. Transfiguraram-se em Orfeus sem Eurídice.
Infelizmente, os poetas contemporâneos do Vale não lembram em nada nomes como Wesley Pioest, Jansen Chaves, Tadeu Martins, Gonzaga Madeiros, Rubens Espíndola, Pedro Guerra, João Ubiramar Rocha Santos, Ivete Barreto Murta, Geraldo Guedes de Carvalho, Adão Ventura e, claro, os jequitinhonhenses José Machado de Mattos, Cláudio Bento, Caio Duarte e Wellington Miranda. Essa geração, surgida no final da década de 1970, “abriu caminho caminhando”, como diria Alfredo Bosi. Talentosa, explorou ao máximo os brancos da página, as possibilidades dos versos livres e o cordel. Fez com que o imaginário telúrico do Vale fosse conhecido/reconhecido em cada um dos longínquos cantos do Brasil. E criou uma tradição poética valejequitinhonhense que ainda se escreve e resiste ao tempo.
Resta-nos esperar que as crianças do Vale aprendam a lição de que a poesia é como o “Corpo sem órgãos” deleuziano e guattariano, em que não se chega, não se pode chegar, nunca se acaba de chegar a ele ou a ela. Resta-nos lutar para que a poesia seja ensinada na escola. Mas não como uma máquina de rimas, e sim como um suave e frenético desmaio da linguagem. Resta-nos combater o inimigo da modernidade e seus ilhamentos e recusas. Devemos, todos, amantes da boa Literatura, trabalhar agora para termos resultados mais tarde. Dessa forma, as crianças de hoje serão os poetas de amanhã. Poetas livres. Poetas sem amarras. Poetas inquietos que nunca se esquivam da crítica e da conciliação. Tomara que elas, nossas crianças, os meninos e meninas do Vale, espelhem-se na geração do final da década de 1970 e não nesta nova geração que escreve em língua “incompreensível”, torta e em ritmo monótono. Tomara que os professores despertem e transformem a poesia em disciplina obrigatória, cuja ementa tenha os grandes poetas da Literatura universal, brasileira e, sobretudo, valejequitinhonhense. Tomara que Baudelaire seja lido e discutido: “o poeta goza desse incomparável privilégio de poder, à sua votade, ser ele mesmo e o outro”. Válida Esperança!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

FESTIVALE NÃO SERÁ REALIZADO EM JULHO POR CAUSA DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

A FECAJE comunica, com o conhecimento da Prefeitura de Itaobim e do Instituto VALEMAIS, que são parceiros no 30º FESTIVALE, que a realização do evento, prevista para os dias 22 a 28 de julho deste ano, está suspensa e sem data definida para acontecer.
Informa, ainda, que não vê possibilidade de realização do FESTIVALE antes de janeiro de 2013, tendo em vista a dificuldade encontrada pela Secretaria de Cultura para transferir, em tempo hábil, os recursos financeiros previstos em convênio, antes da data-limite prevista pela legislação em ano eleitoral, ou seja, 05.07.12.
Diante dos fatos, a FECAJE lamenta o ocorrido e espera contar com a compreensão de todos, esperando poder arregimentar forças para realizar o evento tão logo seja possível, com a ajuda de todos, a quem agradece antecipadamente.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Poemameudecadadia


Poeminha Infantil


No vale do Jequitinhonha
o lobo não come mais a Chapeuzinho
o sapato da Cinderela não é mais perdido
e Pinóquio não precisa mais contar mentiras.

No vale do Jequitinhonha
as crianças não brincam mais de cantiga de roda
de boi de janeiro
de  dono-da-rua
de imaginação

faça lua...
faça sol...

No Vale até o Bicho da Pedra Azul não vale mais...
 perdeu o emprego

hoje, ele trabalha como representante comercial da
MICROSOFT

( do livro Nós em Sentido D'água, de Thiago Machado)

domingo, 1 de julho de 2012

Amor

O corpo de meu amor parece um rio assim curvo, manso, perigoso. O coração de meu amor é um barco à deriva, uma bússula sem ponteiros, um mapa sem rumos. Mas meu amor conhece o itinenário das águas e o roteiro das pedras. Os cabelos de meu amor são naturais como natural é aquela queda d'água que nos venda os olhos e os olhos de meu amor são o tigre que te espreita na selva, na sala de visita deste teu pequeno e infenso corpo acomodado aos relâmpagos do coração. Enquanto meu amor adormece os olhos em algum remanso, o seu corpo brilha na superfície, é que, suas escamas foram lavadas com diamantes.

(Ronald Claver, do livro Nas Águas do Jequitinhonha)