segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Texto do mês de agosto na minha coluna no jornal Informativo, de Jequitinhonha


Segundo o historiador Luís Santiago, os dois primeiros jornais publicados no Vale do Jequitinhonha foram “A Estrela Polar”, criado em 1902, e “Pão de Santo Antônio” (que teve o nome mudado para Voz de Diamantina), criado em 1906, em Diamantina. Ambos periódicos eram vinculados a entidades católicas. Infelizmente, as pesquisas sobre o Vale do Jequitinhonha se restringem a repetitivos e cansativos trabalhos acerca da oralidade, do artesanato e de algumas patologias apresentadas pela população da nossa terra, o que dificulta qualquer pretensão de análise precisa sobre a história da região. Provavelmente, devem existir jornais anteriores aos mencionados por mim, sobretudo, no Serro, município que, em 1700, deu origem a todo o Vale do Jequitinhonha. Porém, os pesquisadores que estudam o Vale continuam a se comportar muito mais como turistas, admiradores do fortuito e do exótico, esquecendo-se de que o compromisso do pesquisador é com o trabalho acadêmico de qualidade e não com um longo e prazeroso período de férias.
No Baixo Jequitinhonha, a criação dos jornais é quase paralela a Revolução de 30. Em entrevista ao Jornal Geraes, de setembro de 1978, o escritor José de Cortês Duarte afirma que o primeiro jornal surgido nessa região foi “O Indígena”, de Jequitinhonha, seguido de “O Vigia”, de Almenara, e de “A Voz do Norte”, de Pedra Azul. Não temos informações sobre os fundadores de “O Indígena” e tampouco sobre a data de sua fundação. Possivelmente, o jornal deve ser anterior ao ano de 1930. O jornal “O Vigia” (atualmente, O Vigia do Vale) fora fundado em junho de 1930 por Olindo Miranda de Souza. Na época, atuaram como colaboradores o próprio José de Cortês, o padre Manoel do Padro e o médico Ponciano. Geralmente, os jornais publicados na década de trinta apreciavam a retórica barroca ou o tom panfletário e o discurso cívico e de massas. No entanto, “O Vigia” se diferencia dos jornais dessa década por trabalhar, politicamente, para a emancipação de Almenara, que ainda era distrito de Jequitinhonha. A emancipação foi conseguida somente em doze de janeiro de 1938 e “O Vigia” teve fundamental importância para que esta ocorresse.
Na cidade de Pedra Azul, antes da publicação do periódico “A Voz do Norte”, foi criado “O Sertão”, em fevereiro de 1931, pelo professor Josias Moreira. Esse jornal foi mantido pela Prefeitura, no governo de Antero Ruas. Em junho de 1936, também na cidade de Pedra azul, fora criado o jornal “A Voz do Norte” por Sátiro de Almeida. Outros periódicos relevantes para o início do jornalismo no Vale foram “O Arassuahy”, fundado em 1938, na cidade de Araçuaí, e “O Reivindicador”, fundado em outubro de 1930, em Salinas, por Clemente Medrado. Apesar de todos os jornais mencionados terem contribuído significativamente para os primeiros passos do jornalismo no Vale, creio que o periódico que, sem dúvida, consolidou o jornalismo na nossa região foi o jornal Geraes. Ele circulou, inconstantemente, entre os anos de 1978 e 1985 e teve vinte e três edições, sendo a última em julho de 1985. A redação desse jornal funcionava na rua Jaime Gomes, 155, no bairro Floresta, em Belo Horizonte e sua impressão era realizada também na capital mineira pela gráfica Ratanguera. O Geraes circulava em todo o Vale do Jequitinhonha e seus objetivos eram retratar a realidade do Vale e discutir os problemas desta região. Além destes objetivos bem traçados no editorial da primeira edição, de março de 1978, o Geraes ajudou a fundar diversas entidades culturais, tais como CCVJ (Centro Cultural do Vale do Jequitinhonha), o MCPJ (Movimento de Cultura Popular do Jequitinhonha), o CCAVJ (Centro Cultural e Artístico do Vale do Jequitinhonha, fusão do CCVJ com o MCPJ), e a criar, a organizar e a divulgar um dos maiores festivais de cultura brasileiros, o FESTIVALE. Porém, julgo que a maior contribuição do Geraes foi para a literatura do Vale, uma vez que divulgou em suas páginas poesias e contos de autores valejequitinhonhenses e promoveu o I concurso de Poesias e Contos da região, em 1978, divulgando as poesias premiadas neste concurso na edição de número cinco, de janeiro/fevereiro de 1979. Outra imprescindível contribuição do Geraes para a literatura e, especificamente, para a poesia do Vale foi o apoio que deu aos livros Jequitinhonha “Antologia Poética” e “Jequitinhonha Antologia Poética II”, publicados, respectivamente, em 1982 e 1985, e ao livro “Arreunião”, coletânea com 66 poetas do Vale, publicada em 1984.
Contemporaneamente, destaco a fundação do jornal Informativo, de Jequitinhonha, em 25 de agosto de 2001 por Alessandro Xavier e Dirceu Pereira.  Este jornal, um dos mais jovens do Vale do Jequitinhonha, completará dez anos este mês e creio que temos muito o que comemorar. A cidade de Jequitinhonha, que teve o primeiro jornal do Baixo Jequitinhonha, ficou durante décadas sem nenhum veículo de comunicação impresso. O jornal Informativo veio para preencher essa lacuna e, hoje, consegue levar reportagens, opinião e informação não só aos Jequitinhonhenses naturais da cidade de Jequitinhonha, mas também a grande parte da população do Baixo Jequitinhonha, respeitando os princípios do conhecimento, da disseminação da aprendizagem em massa e da notícia ensinados pelo alemão Johannes Gensfleisch zur Laden zum Gutenberg, “inventor” da imprensa, no século XV. Claro que o Informativo ainda precisa melhorar em alguns pontos e há a consciência disto. Mas, há quase uma década este jornal era apenas um sonho. Agora, ele é uma realidade consolidada. Assim, como colaborador orgulhoso e, antes de tudo, como amigo dos inúmeros leitores deste jornal, sei que o trabalho e a busca pela qualidade nunca cessarão. Por isso, gostaria de agradecer aos leitores pelo carinho, pelo respeito, pelas conversas e pelas opiniões tão gentis sobre a minha coluna. Gostaria de agradecer também ao Alessandro pela oportunidade que me dá com este espaço e pela liberdade para escrever e “escrever-me”. Isso, definitivamente, não tem preço. Acredito que tudo isso junto fazem do jornal Informativo o algo novo e diferenciado no jornalismo do Vale. E tenho a certeza de que esse jornal, com a ajuda de todos vocês, conseguiu entrar para a história do jornalismo do Vale do Jequitinhonha e fará parte, daqui para frente, de qualquer trabalho que ouse a estudar o jornalismo no Vale.