quarta-feira, 21 de março de 2012

Mapa da Gestão Fiscal da FIRJAN demonstra a eficiência da administração pública do município de Jequitinhonha.

O Sistema FIRJAN divulgou o mapa que mede a eficiência de gestão fiscal nos municípios brasileiros. Segundo essa avaliação, a situação fiscal é difícil ou crítica para quase 65% desses municípios, enquanto a excelência na gestão fiscal está restrita a apenas 2% das cidades do país. A cidade de Jequitinhonha está no patamar de “gestão em dificuldade”, índice semelhante a 43,7% dos municípios brasileiros. Em Minas Gerais, a situação avaliada em situação difícil ou crítica abrange 555 cidades mineiras (67,7% ). Se compararmos o índice de Jequitinhonha com as cidades de Almenara, Araçuaí e Capelinha, as quais receberam o campus da UFVJM, a diferença é bastante grande. O índice  jequitinhonhense é maior, inclusive, do que cidades do porte de Teófilo Otoni e de Montes Claros. O resultado demonstra que ainda precisamos melhorar a eficiência da administração pública local, mas, mostra também que é necessário que continuemos o projeto que vem sendo desenvolvido pelo prefeito Roberto Botelho, pois só assim conseguiremos atingir a boa gestão (já estamos bem perto) e a gestão em excelência.

Legenda do índice IFGF
Gestão crítica: entre 0 e 0,4.
Gestão em dificuldade: entre 0,4 e 0,6.
Boa gestão: entre 0,6 e 0,8.
Gestão em excelência: maior que 0,8.

Metodologia da pesquisa
O índice combina cinco fatores:
1) receita própria (capacidade de arrecadação)
2) gastos com pessoal ( grau de rigidez do orçamento)
3) investimentos (capacidade de investir)
4) custo da dívida ( a longo prazo)
5) liquidez (alocação de restos a pagar sem cobertura)

Resultados

Jequitinhonha: 0,5834
Almenara: 0,3086
Araçuaí: 0,3728
Capelinha: 0,4521
Pedra Azul: 0,3005
Joaíma: 0,5736
Itaobim: 0,5794.
Montes Claros: 0,4141
Teófilo Otoni: 0,5085.
                                
Fonte: http://www.estadao.com.br/especiais/mapa-da-gestao-fiscal,164145.htm

sexta-feira, 16 de março de 2012

UFVJM em Jequitinhonha: o sonho acabou, mas a luta por uma Educação pública, gratuita e de qualidade continua


Sexta-feira. Dia 16 de março de 2012. Podia ser apenas mais um dia do mês das águas. Não é. Não foi. Não será. Hoje, por volta das 16:41h, horário de Brasília, o Consu (Conselho Universitário) da UFVJM indicou as cidades de Capelinha, Araçuaí e Almenara para serem sede dos três novos campus da UFVJM, no Vale do Jequitinhonha. Como jequitinhonhense, sinto-me frustrado, triste, derrotado também. Sobretudo, porque sei dos infinitos benefícios tanto a curto quanto em longo prazo que uma instituição de ensino superior pública pode oferecer. No entanto, deixando o jequitinhonhismo de lado, creio que venceram as cidades mais tecnicamente preparadas. Não podemos esquecer que o PIB de Almenara, por exemplo, é quase o dobro do de Jequitinhonha. Sem contar que aquela é sede regional de diversos órgãos públicos federais e estaduais. Pode-se, dizer, assim, que nossa derrota não é de agora. E nem a vitória de Almenara o é. Esta foi, durante muito tempo, distrito de Jequitinhonha. Emancipou-se somente em 1938. E desde então não parou de crescer e de nos ensinar como fazer política. Julgo que, atualmente, aprendemos. Retomamos um crescimento econômico, social e político graças ao prefeito Roberto Botelho e aos seus ideais de transformação e ao seu amor por Jequitinhonha. Experimentamos, pela primeira vez, em duzentos anos, um jeito certo, ousado e arrojado de fazer política. Mas, não foi suficiente. Fazer o quê. Não se pode mudar em oito anos o que muitos políticos jequitinhonhenses deixaram em estado de inércia e letargia por quase dois séculos. Por isso, mesmo com um gosto ainda amargo na boca, parabenizo o prefeito Roberto Botelho pelo empenho e dedicação com que conduz a gestão do nosso município. Parabenizo ainda a “todas”, sem exceção, da Secretaria Municipal de Educação, que se dedicaram, irrestritamente, abdicando, inclusive, de sono e do lazer, para construírem o projeto da universidade em Jequitinhonha. Não deu. Mas, a luta continua. Pois, como diz o nosso hino,com letra e música do capitão Antônio Cunha, o povo de Jequitinhonha e a cidade, respectivamente, são:
“de sangue negro, índio e bandeirante,
Fez desta cidade um gigante,
Se faz refletir, no seu rio,
Como um grande diamante”
(...)
“Jequitinhonha cidade querida
Terra que abriga minha vida
Jequitinhonha não a esquecerei jamais
Orgulho de Minas Gerais”.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Para comemorar o dia nacional da poesia, dois poemas inéditos do livro Cáctus D'amor, de José Machado de Mattos

Vulto


Na rosa do povo,
espinhei-me.
No dorso da vida,
costurei poemas.
Será cancela a desrima?


Góstico


Ao menino,
deram-lhe pronomes.
Aos pronomes,
memórias de mármore.

sábado, 10 de março de 2012

Duas histórias no Rio Jequitinhonha

Diamantino nada todos os dias até a pedra do Sapo. Senta-se lá por horas e horas sem perceber o correr do tempo. Gosta mesmo de ver o “poer-do-sol” se machucar nas pedras, o chacoalhar das águas, a lua nascendo e se olhando no espelho d’água do rio. Mesmo gosta é do correr do rio, por dentro, por certo, descompreendendo a vida. A terceira margem. O sertão. Ambos se espiando. Aqui, o sertão é derrotado pela força do homem e da mulher, dos braços suados. Uma música de longe vem, do século XIX. É travessia, Beira-Mar. “Chora morena,/ chora morena,/ chora morena,/quando cê for,/ cê me leva, morena.”
Mané Branco, o romanceiro do Vale, era do “tempo do camisão”, “do tempo do calção”. Olhava a “brabeza” das águas num ser ou não ser. O embornal estava cheio. De Peixes e Amor. Lembrava-se de Dona Zina. “Apesar de ‘ispiculadora’ da vida alheia, ela é minha saudade latente”. No Vale, a beleza pesa mais, vale mais que a miséria. Sabia disto. Cresceu ouvindo isto. Ouvindo a terra. Ouvindo os sons do Jequitinhonha, apesar de. Outras memórias vinham, escorriam escorregadias. Fazenda Boa Vista do Calhau. Lá deixou Mirtes na pedra do Rei, na escuridão assombrada da noite. Dona Luciana Teixeira, a mulata meretriz, tinha seu respeito, sua opinião. O padre Antônio Pereira Freire, não.
Diamantino via. O “rio agora é outro”. “A vida é outra”. Sem praia, sem pelada, sem graça, sem banho, sem sal. Suas águas não rolam mais. Não dá mais para ir a pé pelas praias, inundadas, imersas de casos e de caos. Não havia mais o rio empolado do gigante Itamonte, de Vila Rica, rico em pedras rútilas e mercúrio. Não havia mais o feliz Jequitinhonha do amante Satisfeito, de Glaura.  Não havia mais as luzentes vagas do rio da Vênus do Vale, do Romanceiro da Inconfidência, da Chica da Silva que mandava no contratador João Fernandes. Não havia, não havia mais o rio Grande, o Paticha, o Iguaçu, tudo era, agora, sensação agonística, um afastar-se do “trem bonito”.
A imagem de Nossa Senhora Aparecida adornava a canoa de Mané Branco e servia para protegê-lo dos Botocudos; do Quebra-Cara; da sequidão que minguava viagem; da “chumbera”; do Surubim gigante devorador de pescador; do rebojo da Ilha do Pão; e da Sucuri Belarmina. Num apesar de, raiva tinha também. Do canoeiro Cristóvão Benevides. “Benevides roubou o nome do meu escaler: Viramundo”. Amarrou na árvore a regera (corda) de sua canoa, que, por conta do homônimo, passou a se chamar Dona Zina. “É mais romântico”, dizia Mané.  Porém, quieto, pensava: “será que a Mirtes não vai enciumar?”. “Coração que ama duas/ que firmeza pode ter/ Ama uma em falsidade/ outra ama até morrer”. Ali, canoa e corpo pareciam se confundir no mais que humano, um sentidor estado-de-ser do canoeiro. Sentou-se na Pedra Redonda e comeu seu mingolim, feito com rapadura, gordura de porco e farinha.
Duas histórias presas nos atalhos curvos do rio se cruzam no tempo e no espaço, nas suas preocupações, nas suas trans-vidas. Duas histórias doem para se perpetuarem nas águas e nos fantasmas dos redemoinhos anfíbios. Porque o que o rio quer é o pacto com a mulher e o homem. O que ele quer são as estrelas indóceis desabando, os arco-íris indomáveis. A alegria que dá na poeira e no barro. O que o rio quer é ser Rosa. Ser Azul. Correr e Ficar. Ficar e Correr. O que o rio quer é desaguar, desmorrer, reviver, ressuscitar.