segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Conjugações de Isadora



Para Isadora Fagundes Machado, filhazinhazinha.

A música soa. És feita de assins. Ela e Vocês duas, dormindo, cores de Luas rútilas. Há música em teu canto, em teu choramingo criança, que vem, fica e acaba, tranquilamente, Isadorando o tempo, Isadorando o vento. Pulsa em mim, o tudo, como o som do violino. Um violoncelo atemporal que se derrama em meus braços em tons de bebê. Minha rima, meu verso livre, minha garotinha. A música soa. Nando Reis. “Minha cor /Minha flor/Minha cara/ Quarta estrela/Letras, três/Uma estrada/Não sei se o mundo é bão/Mas ele ficou melhor/Desde que você chegou/E perguntou:/Tem lugar pra mim?/Quarta estrela/Letras, três/Uma estrada/Não sei se o mundo é bão/Mas ele ficou melhor/Desde que você chegou
/E perguntou:/Tem lugar pra mim?/Espatódea/Gineceu/Cor de pólen/Sol do dia/Nuvem branca/Sem sardas/Não sei se o mundo é bão/Mas ele está melhor/Porque você chegou/E explicou/O mundo pra mim/Não sei se esse mundo está são/Mas pro mundo que eu vim já não era/Meu mundo não teria razão/Se não fosse a Zoé/Espatódea/Gineceu/Cor de pólen/Sol do dia/Nuvem branca/Sem sardas/Não sei quanto o mundo é bão/Mas ele está melhor/Desde que você chegou/E explicou/O mundo pra mim/Não sei se esse mundo está são/Mas pro mundo que eu vim já não era/Meu mundo não teria razão/Se não fosse a Zoé.” A música continua, em meus braços, abraços. Nossa cor. Nossa flor. Nossa cara. Primeira Estrela. Meu presente dissertado, multiplicado em três. Uma estrada, joia rara. Leite polissêmico, sim, nossa cara, meninazinhazinha, sufixozinhozinho apertada no ventre da mãe. No colo, tem um sorriso impressionista. Deita-se em nós, desata-se. O toque dela é um não sei o quê, que vem não sei de onde misturado aos não sei o porquê. O mundo é bom, filhinhainha. Mas ele ficou melhor desde que você chegou. Faça-o! Brinque-o! Silencie-o! Escreva-o! Guarde-o! Vá, como uma bailarina dançando em sua caixinha de música sem corda. Acorde-o! Tem lugar para você, aqui. Venha nos explicar. Venha nos transformar em histórias infantis. A vida, nossa, é parlenda, agora, que você chegou e explicou o mundo para nós. Mamadeira. Fralda. Bico. Bebê conforto. Berço. Abajur. Carrinho de bebê. Banheira...o dicionário ficou pequeno. E o sono também!  Sono? A gente esquece. Só quer ficar grudadinho em você, Isadorando-te. Só quer te olhar. Teu olhar! Ah, teu olhar! Isadolhar! Ele tece a locução adverbial do Amor que você criou, efetivo, permanente, Lilás. E não importa. Não sei se o mundo está são. Mas Jequitinhonha. Jequitinhonha está. Espera-te! Espia-te! Praças! Ruas! Igreja Matriz de São Miguel! Terás um rio para matar a tua sede. Terás um povo alegre para te ensinar as sabenças da vida. E saberás, na cor do sol, buscar o teu brilho, girassol. E saberás usar o teu brilho, astro luminoso e iluminado. Terás o brilho do sol em teu mundo de pelúcia. Teu mundo? Terá a cor das borboletas. Terá o gosto das lichias. Terá o toque carinhoso e o jeito cativante de tua mãe. Fará da vida, um poema. Viverá a vida que era para ser escrita. Isadorará. Em mim. Em nós! Isadorar! Nosso novo verbo! O verbo-menina que veio para fazer com que o mundo adquira razão. O verbo-menina que se conjuga o tempo todo em todos os tempos. O verbo sinônimo do Amor.



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Meu artigo sobre a poesia jequitinhonhense publicado na revista Deserendos

http://desenredos.dominiotemporario.com/doc/14-Artigo-ThiagoMachado-IlcaVieira-Jequitinhonha.pdf

As Terceiras Margens poéticas do Rio Jequitinhonha: do século XVIII ao contemporâneo





Em recente entrevista a revista de Cultura Agulha, de Fortaleza, Ceará, a escritora Maria Lúcia Dal Farra (1944), perguntada sobre o papel da inócua e tímida crítica de poesia brasileira, afirmou, categoricamente, que “de verdade mesmo escrevemos para ninguém, pelo menos para ninguém que nos ouça ou que nos leia – escrevemos sempre para quem ali não está e que, se estivesse, não se encontraria onde supomos que pudesse estar. A poesia nasce desse desencontro jamais resolvido e essa é a maneira de ela se projetar para adiante – porque procura aquele que ainda não há. A rigor, portanto, era bom que o crítico ocupasse esse lugar des-sabido e errático (pelo menos por alguns instantes) nem que fosse dentro da máscara de um “hypocrite lecteur” baudelaireano (que, aliás, nesta versão da modernidade, data pelo menos de 1848 - donde se vê que o espaço vazio é antigo)”. Vesti-me da carapuça baudelaireana e, menos adiante, tive um texto publicado pela Revista de Literatura e Cultura Desenredos, fundada em Teresina, Piauí, em 2009, com o objetivo de estimular a criação artística e promover o debate de temas vinculados, direta ou indiretamente, à Literatura.
Ocupei-me do lugar des-sabido e errático para, no texto “O percurso o rio Jequitinhonha da tradição ao contemporâneo: a consagração do instante”, discutir as imagens desse rio presentes nos livros Vila Rica, de Cláudio Manoel da Costa; Glaura, de Silva Alvarenga; Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles; e no poema “O rio agora é outro”, de José Machado de Mattos, pertencente à série de poemas “Válida Esperança”, de Jequitinhonha Antologia Poética. Nessas reflexões, procurei demonstrar como suas imagens se vinculam ao “ciclo do ouro” mineiro e ao apogeu financeiro do Vale do Jequitinhonha, no século XVIII, nas obras dos poetas árcades e da poeta modernista, e como se vinculam à decadência econômica do Vale, no final do século XX, no poema do poeta contemporâneo.
Ao escrever sobre o Jequitinhonha, escrevi-me, muitas vezes. Senti-me na proa de seus escaleres. Lembrei-me das peladas do fim do dia na praia. Toquei e fui tocado pelas águas marrons, cheias de histórias e opinião. E tudo bem! Se crítica de poesia em nosso país ainda é ínfima e rara. E se a crítica de poesia do Jequitinhonha era, até então, inexistente, não o é mais. A geografia da terra dos diamantes tem um lugar merecido na Biblioteca de Babel da crítica literária, mesmo que para aqueles que ainda não hão. Ora! Foi dissertando sobre o que amo que redescobri o rio em palavras. Analisando-o, enxerguei suas terceiras margens. Elas estão lá, quando o gigante Itamonte, em Vila Rica, apresenta-lhes ao herói Garcia... rio do leito empolado... Estão lá, quando, à beira do feliz Jequitinhonha, que serve como cenário para o amor de um pastor por sua amada, em Glaura, a vida se bucoliza. Estão lá, quando Cecília Meireles retoma o antigo arraial do Tijuco e a história de Chica da Silva “nas luzentes vagas do Jequitinhonha”. Estão lá, quando o poeta jequitinhonhense, ser enraizado, depara-se com um rio modificado e doente, um rio que é outro mar, sem água e sem sal.
Estão lá, presentes entre os homens, consagradas na história. No princípio do princípio, antes, mas não fora dela. E é nesse lugar de desencontro jamais resolvido é que a poesia continua existindo, afinal, como disse a Maria Lúcia Dal Farra, “a poesia só existe quando se coloca contra a linguagem que vigora, cavando frestas por onde significar outra coisa que ela mesma ainda nem sabe o que é. E só há um jeito de viver isso: no impasse. Porque não é só uma questão de contenda sempre armada entre o poema e o seu leitor. Mas de uma luta engalfinhada entre o que a poesia busca produzir e aquilo que suas leis de produção lhe permitem ou não ultrapassar enquanto fatores constitutivos da comunidade da qual ela emerge e com quem dialoga. Muito embora em trânsito permanente, esse mecanismo de mercado só sossega se domá-la, ávido por abocanhá-la como sua presa, pasteurizando-a em definitivo. Fugir desse sequestro, enfrentá-lo no texto, situa a poesia nesse impasse de que falo, pois que o ato poético, na impossibilidade do heroísmo que redundaria inócuo, não pode ceder à contraparte cínica contida no desejo de se realizar.” Assim é. E tomara que assim seja!

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Manifesto 45






                                                                         


                                                       
Eu voto em Sinha porque voto não se conquista com mentiras,
mas com propostas e planejamento.
Eu voto em Sinha porque acredito que o Futuro está bem próximo, chamando-nos com um jeito Rosa de governar e com um jeito sério para nunca retroceder.
Eu voto em Sinha, sim, porque meu voto é livre e traz consigo o poder da cidadania e não a calúnia, o fracasso, a injúria, a mágoa e a derrota dos oposicionistas vãos.
Eu voto em Sinha porque não quero que minha cidade vire chacota, anedota, primeiro de abril.
Eu voto em Sinha porque acredito nos sonhos e em suas concretizações.
Eu voto em Sinha, sim, porque sei que com ela o pensar e o fazer se misturam e se coincidem,
porque sei que com ela o ser humano é valorizado em todos os sentidos, por todas as direções.
Eu voto em Sinha porque os avôs e as avós de bem votam
porque os pais e as mães de bem votam
porque os irmãos e as irmãs de bem votam
porque os tios e as tias de bem votam
porque os primos de bem votam        
porque as esposas e os maridos de bem votam
porque os filhos de bem votam
porque, enfim, toda a minha família de bem vota.
Eu voto em Sinha porque voto na consciência
na liberdade
na oportunidade
na honestidade.
Eu voto em Sinha
porque os porquês Dela são vários
são únicos
são verdadeiros
são essenciais.
Eu voto em Sinha porque voto no Desenvolvimento,
porque voto no Progresso.
Eu voto em Sinha porque votando nela, voto também um pouco em mim,
porque voto, repetidamente, no povo.
Eu voto em Sinha porque confio, exageradamente, na força da Mulher e porque amo Jequitinhonha.
E o amor deve ser sempre o motivo mais nobre de quem ama. Porque o amor é o que move, todos os dias, o povo jequitinhonhense.

sábado, 29 de setembro de 2012

Jequitinhonha 201 anos



O Futuro da Villa Arcangelina (Jequitinhonha)

Julião Fernandes gostava de sentar em sua galinhota, uma velha companheira das antigas feiras de sábado. Foi com ela que começou a ganhar a vida, em frente ao Mercado Municipal. E era com ela que refletia sobre decisões importantes. A galinhota podia até estar um pouco desbotada, mas as ideias, ah! As ideias não se desbotam nunca, bem como os ideais, pensava o recatado Julião. Sempre que se sentava em sua gasta galinhota, levava sua xícara de café, que tinha que estar quente e forte, como o dia a dia. E levava consigo também seu livro preferido, a Lei Orgânica Municipal de Jequitinhonha, livrinho nas cores vermelha e verde, com vinte e sete páginas. A paixão de Julião. Porque Amor, Amor mesmo, ele sentia por Jequitinhonha, seu descanso na loucura, seu ato sem recato, sua mistura entre tudo e infinito. Eu não sei o porquê e o próprio Julião também nunca soube, mas ele começava suas pensações a partir do artigo terceiro do seu pathos preferido: “Constituem objetivos fundamentais do município: I – o respeito à dignidade da pessoa humana; II – a garantia do desenvolvimento do trabalho e da livre iniciativa, com oportunidades abertas a todos os cidadãos independentes de seu sexo, raça, idade e cor.”
Julião leu e releu este preâmbulo costumeiro e se calou. Calou, descalou. Queria este artigo em seu epitáfio. Já tinha falado isso a sua filha Artêmis. Porém ia dizer de novo. Antes, a tristeza. Tinha acabado de se lembrar dos programas eleitorais na rádio Santa Cruz de Jequitinhonha. O coração de Julião ficou em uma ficança insegura, doída, sisuda. O que Julião escutou não o deixou feliz. Julião estanhava o programa da oposição de Jequitinhonha. Como estranhava os comícios. Como estranhava as figuras. Muitos homens forasteiros de blá,blá,blás mentirosos e poucos pensamentos! E com um costume terrível: o de nenhuma proposta. Vazio. Conjunto vazio, fórmula matemática aplicada à política. Um nada cheio de invencionices. Julião se inquietava. Escutava as falas deles com atenção. E soltava logo um frenético: “isso aí nem o gênio da lâmpada consegue fazer”! Julião desconfiava. Desconfiança de quem já sofreu. Ele tinha uma terrinha onde hoje é o assentamento Campo Novo. Vendeu-a porque o ex-prefeito, candidato da oposição, queria construir uma penitenciária ali. Julião vendeu a terra e veio para a cidade, mas não vendeu sua dignidade e seus princípios. Levantou bandeira. Lutou junto com o povo e o movimento “Penitenciária: aqui, não!” Na luta diária, aprendeu a vencer a falta de propósito e a ilogicidade. A Penitenciária não foi construída. No entanto, Julião viu mais atrocidades. Viu de perto amigos serem perseguidos. Viu de perto amigos e amigas sofrerem com salários atrasados. Lembrava-se com extrema amargura daquele passado negro, entre 1997 e 2000, época em que o “Dinismo” transformou Jequitinhonha na cidade dos “Joões” e “Juliões” sem terra e sem perspectiva.
Julião tomou o último gole de seu café. Desde aquela época negra, resolveu que nunca mais iria votar. Anulou todos os votos a partir de então. Só que a vida muda a gente mais do que a gente muda a vida. Julião levantou-se. Deixou sua galinhota. Foi contagiado pela Onda Rosa. Pela sinceridade e “forteza” observadas nas falas de uma Mulher. Julião foi convencido pelo progresso e desenvolvimento que sua cidade amada passou nos últimos oito anos. Julião mudou assim como Jequitinhonha. Sensibilizou-se com as propostas firmes e planejadas de alguém como ele. Julião Fernandes Silva. Um Silva vota em uma Silva, dizia. Julião queria que o Progresso Continuasse. Queria ver alguém como ele na prefeitura. E, sobretudo, não queria que a época do sofrimento e dos “DEZmandos” voltasse. Então, resolveu dar um presente para si mesmo e um presente para Jequitinhonha, que, no dia 29 de setembro, completou duzentos e um anos. Pegou sua bicicleta Rosa. Colocou seu adesivo do 45 no peito. E, depois de muito tempo sem votar, resolveu sair de casa em um sete de outubro para votar em Sinha. Era o dia para acabar de vez com a mentira e com a política suja dos forasteiros. Porque ele tinha uma certeza lida muitas vezes: quem ama Jequitinhonha, vota em Sinha. Quem ama Jequitinhonha, vota na Mulher.

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Encontro inusitado da Escrita com a Educação




Hoje, estive acompanhando a Secretária Municipal de Educação de Jequitinhonha, Vanusa dos Santos Nunes, e a Supervisora Carla Almeida em visita a Escola Municipal da comunidade Porto Alegre, zona rural de Jequitinhonha. Essa visita teve como intuito a aplicação de teste do ciclo de avaliação e, ademais, diagnóstico das necessidades do grupo escolar e realização de levantamento de demandas educacionais. Práticas corriqueiras e burocráticas à parte, havia também a comemoração da semana do folclore. E aí residiu, rosianamente, o bonito e sentido da experiência. A professora Edna Maria Ribeiro utilizou, durante a semana, vários textos que tratavam do imaginário popular. O folclore metodologicamente explorado em sua etimologia antiga, significando, em inglês, “discurso do povo”, “sabedoria do povo”, “conhecimento do povo”. E, entre tantas opções, a docente usou textos que publiquei para a minha coluna “Conversas no Escaler”, do jornal Informativo, para ilustrar a temática aprendida. Lembrei-me das aulas de Prática de Formação e Articulação, da época da universidade. John Dewey dizia que a “escola costuma transmitir idéias inertes”. Inertes, aí, no sentido que não agem. Sempre acreditei na cultura em termos bosianos, ou seja, como trabalho feito pelas pessoas que querem realmente conhecer por dentro os mecanismos, ou da Natureza ou do Estado; no caso, as duas coisas acabam ficando juntas. Concomitantemente, sempre acreditei também, sob o paradigma de Bosi, que existem coisas a serem conservadas, não só objetos como também cerimônias, cultos, festas, músicas...tudo isto é cultura.
O que presenciei ali foi a inércia sendo devorada pelas “sabenças” populares. E a cultura se auto-conservando e se prolongando no mais além das faltas de tentativas de explicá-la. Tive a oportunidade de conversar com os alunos presentes sobre a sereia Iara, moradora do rio Jequitinhonha. E sobre a lenda do Bicho da Fortaleza, da Pedra azul, da Carneira...vi crianças encantadas, vidradas nessas personagens... e vi ainda aquele momento blanchotiano em que “o olhar é atraído, arrastado e absorvido num movimento imóvel e para um fundo sem profundidade.” As histórias se refletiram e ecoaram num fora/dentro, Vale afora. Ali, obtive todas as completas sensações que o dinheiro não paga. Que bom senti-las em casa. O folclore do Vale, ali, provou-me que sobrevive e que permanece tentando se recontar. E a educação, ah! Esta continua nos pregando de suas peças. Bem semelhantes a estas reflexões de Paulo, o Freire:
Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a “sede do saber”, até a “sede da ignorância” para “salvar”, com este saber, os que habitam nesta. Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.

Sonho dos jequitinhonhenses está perto de se realizar!