quarta-feira, 18 de abril de 2012

Texto que a professora Maria Ângela de Aráujo Resende apresentou sobre a minha dissertação de mestrado

- Boa tarde a todos!
- Agradeço à amiga e colega Profa. Ilca, que muito me honrou  com este convite e também, por esta parceria  que se fortalece – UFSJ e UNIMONTES. Parcerias importantes no cenário das universidades em Minas e do Brasil.
- A você, Thiago, agradeço a possibilidade de ler um trabalho  prazeroso, bem cuidado, bem escrito e articulado, fruto do seu desejo e de  muita investigação e que revela a sua maturidade acadêmica. É um prazer estar nesta mesa juntamente com o Prof. Anelito.
 - Thiago, percebo que a sua dissertação também é síntese de sua experiência pessoal, afetiva e científica, e que se abre a um novo desafio: ajudar a construir um tipo de crítica e um novo olhar sobre a poesia de e em Minas Gerais, para além do cânone. Achei interessante esta linha de pesquisa deste Programa de Mestrado:  Literatura de Minas Gerais – que significa, a meu ver, a possibilidade de abertura a novos caminhos críticos frente às novas produções ou aquelas que não foram contempladas pela crítica. No meu entendimento, é também, um trabalho que transita entre o ético e o político (aqui entendidos como a possibilidade de construir novos olhares e interpretações do Brasil, através do literário).
         Parabenizo a sua orientadora, pelo recorte metodológico  – leituras imprescindíveis para este tipo de investigação e pela abertura intelectual em orientar trabalhos como este. Apesar de todo o discurso das Ciências Humanas nas Universidades sobre as alteridades, os resíduos, as margens, os deslocamentos, nem sempre encontramos espaço para propor discussões como esta, que privilegiam mais a ausência do que a presença. Penso no compromisso que nós, educadores e pesquisadores temos frente aos espaços de silêncio e à memória cultural da região onde estamos inseridos – e a necessidade de estabelecermos, através do ensino, da pesquisa e da extensão  uma  relação entre o local e o global.
         Thiago, a sua dissertação revela, antes de mais nada, um trabalho corajoso. Corajoso, por tratar, segundo alguns críticos, da “baixa literatura”, ou seja,  sobre textualidades e discursos que não encontram ressonância no cânone literário, que não são citados nas antologias das grandes editoras.  Um trabalho minucioso, de busca em várias fontes (orais e escritas, jornais). Imagino que buscar o “rosto perdido” do Jequitinhonha, através da literatura (para lembrar Ricardo Piglia, ao falar da memória e tradição), não foi uma tarefa fácil, torna-se um empreendimento ousado. Através do seu trabalho, pude conhecer, um pouco da poesia de Tadeu Martins, Gonzaga Medeiros, Wesley Pioest, Jansen Chaves e José Machado.
- Outro grande mérito de sua pesquisa: a novidade – Consolidar o que tem sido construído sobre as poéticas do Jequitinhonha – poéticas aqui entendidas como as manifestações através da poesia, da prosa, dos casos, dos relatos orais, do artesanato, da cultura popular.   
- Gostei também, do modo como você tratou o texto literário – articulando tanto o seu processo de feitura, sem abandonar o discurso – produto e processo que engendram tanto a interioridade do poema, suas articulações metafóricas, metonímicas, de som e sentido, como o poema enquanto um produto de cultura e que também dialoga com outros tempos e outras poéticas. Trazer à cena Silva Alvarenga, Cláudio Manoel da Costa e Cecília Meireles, fundindo discursos e temporalidades enriqueceu em muito o seu trabalho – desta forma, é possível ler uma certa tradição que se fez e que se faz, desde o ciclo do ouro e suas revisitações.
Como professora de Literatura Brasileira e de Teoria Literária, percebo que, atualmente, carecemos de um olhar mais detalhado sobre o texto poético ou em prosa – e você nos proporcionou isto.
Não estou dizendo que devamos priorizar a análise pela análise – me lembro de um texto fundamental de Antonio Candido – um pouco datado, mas sempre necessário – “Na sala de aula”.
Agradeço-lhe por você ter me proporcionado o contato com esses poetas e esta poesia. Parabéns!

Maria Ângela de Araújo Resende (Graduada em Letras pela Faculdade Dom Bosco de Filosofia Ciências e Letras (1982), Mestrado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG (1997) e Doutorado em Literatura Comparada pela Universidade Federal de Minas Gerais UFMG (2005). Professor Adjunto III da Universidade Federal de São João del-Rei - UFSJ. Professora da Graduação e do Mestrado em Letras da UFSJ: Teoria Literária e Crítica da Cultura, com ênfase em Literatura Brasileira, Teoria Literária, Literatura Comparada e Crítica da Cultura. Coordenadora do Grupo de Pesquisa Memória e Modernidade (CNPq). Atua na linhas de pesquisa: Literatura e Memória Cultural, com ênfase em pesquisa em acervos e arquivos e também no Grupo de Pesquisas das Poéticas da Modernidade, com ênfase nos estudos da poesia e prosa contemporâneas.)
                    

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