quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Texto do mês de setembro da minha coluna no jornal Informativo, de Jequitinhonha

Jequitinhonha duzentos anos: três histórias de ousadia
A cidade de Jequitinhonha que, toponimicamente, recebeu também os nomes de Sétima Divisão Militar de São Miguel, Freguesia de São Miguel da Sétima Divisão e Vila de Jequitinhonha, completa, no dia 29 de setembro de 2011, duzentos anos de fundação, apesar de historiadores, como Leopoldo Pereira, defenderem que a fundação da cidade data do ano de 1804 e não 1811. Então, para comemorarmos essa data, resolvi destacar, neste mês, a história de três personagens que contribuíram, pela ousadia demonstrada, para que o município chegasse aos duzentos anos almejando um futuro cada vez melhor. O primeiro personagem que ressalto é o Alferes Julião Fernandes Leão. Ele combateu os espanhóis na guerra da colônia de Sacramento e recebeu da coroa portuguesa a missão de instalar a Sétima Divisão Militar de São Miguel para guarnecer o rio Jequitinhonha, já que a exploração do ouro e do diamante, no Arraial do Tijuco, estava em seu apogeu. Porém, a ousadia do Alferes Julião Fernandes Leão vai muito além da fundação do município de Jequitinhonha. Esse militar colaborou para a colonização de todo o Baixo Jequitinhonha sem se submeter à cobiça mercantilista e à frenética insurreição contra-reformista que tomavam conta do período colonial brasileiro. Assim, ao invés da força, o Alferes utilizou-se da benevolência para atrair, pacificar e proteger o silvícola, que o ajudou, imensamente, a concretizar a sua ousada proposta de colonização do Baixo Jequitinhonha: a de construir sem destruir.
O segundo personagem que enfatizo é Mário Martins da Silva, que fora prefeito de Jequitinhonha entre os anos de 1923 e 1926. Durante o período em que Mário Martins foi prefeito, o Brasil sofria uma crise de identidade republicana, marcada pela instabilidade financeira, política e social, e pelas rebeliões civis e militares. E o que fez o coronel Mário Martins nessa época turbulenta? Ousou. Ele apoiou, no ano de 1925, sem receio algum, a ideia “mirabolante” de um eletricista analfabeto, o Constantino, de construir uma barragem e uma turbina no córrego Santo Antônio que gerassem força e energia elétrica à cidade de Jequitinhonha. Na época, a população taxou Constantino de louco e ridicularizou Mário Martins. Mas, quando, no ano de 1925, o orador Dr. Arnaldo Carvalho anunciou a inauguração da obra e o padre Jaime Ferreira abençoou as instalações elétricas, e Jequitinhonha passou a ser o segundo município em todo o Vale a gerar eletricidade (No Vale, a eletricidade era conhecida somente em Diamantina), privilégio de metrópole afastada, o prefeito Mário Martins acabou provando com sua ousadia, que, “não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho e na ação-reflexão” (Paulo Freire). Infelizmente, a história de Sr. Constantino e a usina construída por ele (hoje, em ruínas) foram esquecidas pelo poder público, o que é uma pena, pois ambos poderiam ser melhor aproveitados para incentivar o turismo local.
O terceiro personagem que destaco é o atual prefeito, Roberto Alcântara Botelho. Após perder o distrito de São João da Vigia (Almenara), em 1938, o município de Jequitinhonha iniciou um forte período de estagnação política e econômica, tanto que fora, posteriormente, ultrapassado pelo seu antigo distrito, não em importância histórica, mas em tamanho e em relevância regional. O exemplo de ousadia dado por Alferes Julião Fernandes Leão e por Mário Martins da Silva fora esquecido a partir do governo de Joaquim Antônio Guimarães (1927-1930). O que se viu, então, foi uma sequência de más administrações e uma cidade desgovernada politicamente, que parecia viver sob eterno coronelato e republicanismo arcaico. Assim, a República Velha, só fora enterrada politicamente na cidade de Jequitinhonha no século XXI, precisamente, em 2005, ano em que o prefeito Roberto Botelho assumiu o governo municipal. Em entrevista a edição especial do jornal Geraes, Inô, de Minas Novas, diz que “Nós já enterramos todos os coronéis do Vale”. Em Jequitinhonha, não foi preciso enterrar os coronéis, pois todos sofreram da eutanásia da quebradeira. Foi preciso enterrar, metaforicamente, o sistema político atrasado que eles instauraram aqui e que parecia não ter fim. Teve. E teve graças à ousadia e ao novo jeito de administrar implantado por Roberto Botelho. Ele conseguiu enterrar o coronelismo político e inaugurar um modelo de administração ousado, moderno e arrojado, muito semelhante aos implementados por Alferes Julião Fernandes Leão e por Mário Martins. Hoje, existe uma cidade projetada para o futuro e projetos e programas maravilhosos que devem ser mantidos e aperfeiçoados, como o Centro Viva Vida, na área da saúde; como o CREAS (Centro de Referência Especializado da Assistência Social), CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e CAPS (Centro de Atenção Pisicossocial), na área da assistência social; e a implantação do acervo municipal, na área da cultura. No entanto, preocupo-me com a troca da secretária de Assistência Social, uma vez que a nova secretária é inexperiente e há dúvidas se ela terá competência para manter a boa gestão da Assistência Social municipal. E preocupo-me, redundantemente, ainda, com a área da educação. As instituições, e encaro a educação como uma instituição, não podem ter a esperança de seguir o conselho do Príncipe de “O Leopardo”, de Lampedusa, que aconselha aos seus pares: “mudem tudo, mas apenas o suficiente para manter tudo exatamente como está”.
A educação em Jequitinhonha parece que seguiu os conselhos do Príncipe, mantendo tudo como está ou estava antes. Construir escolas ou reformá-las é tímido demais. E oferecer transporte aos estudantes, é obrigação. Portanto, o que falta ao município é um projeto para a educação. E isso tem a ver com a valorização dos profissionais nela envolvidos, plano de carreira, qualidade de ensino, pesquisas e, sobretudo, a busca incessante por cursos técnicos e superiores de qualidade. Jequitinhonha já sai perdendo em qualquer disputa pelo fato de Almenara ser a cidade polo da região. Mas, um projeto bem elaborado pode suprir quaisquer carências. Não podemos esquecer que nosso município é o mais centralizado da região e da relevância histórica que ele possui. A Unimontes e a UFJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri) estão de portas abertas a projetos, o que falta é ousar. Paulo Freire afirma que “a educação sozinha não transforma uma sociedade, mas sem ela tampouco a sociedade muda”. O prefeito Roberto Botelho conseguiu o que era até pouco tempo inacreditável: transformar a cidade de Jequitinhonha. Agora, é hora de mudar a sociedade jequitinhonhense. O site soujequi.com traz, na sua página inicial, uma interessante pergunta: “o que de Jequitinhonha você gostaria de guardar para os próximos duzentos anos? Certamente, eu gostaria de guardar a ousadia de homens como Julião Fernandes Leão, Mário Martins e Roberto Botelho. E, como, infelizmente, os princípios democráticos não permitem a Roberto Botelho um novo mandato para que ele possa começar essa transformação da sociedade jequitinhonhense pela educação a partir do próximo mandato, queria desejar também, que o próximo prefeito, seja ele quem for, tenha um carinho especial com a educação do município e que tenha uma secretaria de educação que ouse. Que ouse sem pestanejar. Só assim nossa cidade estará preparada para mais duzentos anos de história. E só assim  continuará sendo a cidade onde o poder do lugar é mais forte do que qualquer pensamento.    

2 comentários:

  1. Oi Poeta. Pude, enfim, ler o seu texto do mês de setembro do jornal Informativo... "Ousado, moderno e arrojado"!
    Agora é aguardar as repercussões... Cenas dos próximos capítulos, para os noveleiros de plantão, rs.

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  2. Tomara que eu não precise comprar um coleta a prova de balas

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