quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A minha homenagem aos Duzentos Anos de Jequitinhonha


Ser Jequitinhonhense

Provavelmente, muitos de vocês, já se perguntaram: o que é ser Jequitinhonhense? E o que é o ser Jequitinhonhense? Não, não, não sei. Não sei e sei. E sabendo, digo, desconfiado, nunca soube, quase uma dessabença, que, no final, sempre soube certamente. E a primeira coisa que se mistura, nesta não sabença, é que Jequitinhonhense não se define, porque o Jequitinhonhense, soube, sabe e saberá, desde criança, escapar, fugidiamente, das exatidões grosseiras desta vida para tomar banho no rio. Para olhá-lo sem rima e sem pressa. Para atravessá-lo e desatravessá-lo nele mesmo. Para deitar em seu leito e desaguar as dores. E é isso, talvez,dor em Jequitinhonha é ardor. Um ardozinho cachaço-agudo e sorridente que bate lento, jequitinhonhando. Porque Jequitinhonhense olha profundo e fica. Fica o olhar e fica a pessoa. Jequitinhonhense é um ficar. Nas coisas, no tempo, no barro, no vento. Ser Jequitinhonhense, então, não é um geometricamente falando, mas um falando por falar, no seu quase dialeto irregular, meio botocudo, meio africano, meio luso e arrastadamente baiano. Um idioleto de espírito. Jequitinhonhense é Mata Escura, é Quilombo da Mumbuca, é Gruta da Estiva, é o Tamburi de São Pedro, é a tecelagem do Guarani, é o Bom Jardim, é o Craúno, é a usina de Constantino, é a praia, hoje, submersa, é a Mulinha, é o Labirinto, é o córrego São Miguel, é a Pedra do Sapo, é a Ilha do Pão, é os Traileres, é a arvore, é a memória do Tamarindeiro, é a praça da Matriz, é a lua refletindo o seu rútlio suspiro na noturna água do rio, é As Quatros Patacas, é o Beco do Funil, é a praça da Matriz de São Miguel, é o Lajedão, é a travessia de Balsa e de Canoa. Jequitinhonhense que é Jequitinhonhense mora na metáfora e multiplica o polissíndeto. Jequitinhonhense é um eu e você,que, sendo nós, nunca se divide. Porque Jequitinhonhense está junto, no sempre-junto, no sempre-sempre, e mesmo quando está distante, o jequitinhonhense está aqui, fazendo-nos companhia para não nos sentirmos a sós pelas ruas da cidade. O Jequitinhonhense nunca vai em definitivo, porque indo, ele deixa um pouco de si aqui, um si que se espalha pelos cantos e vira poeira. Poeira jequitinhonhense, misturada ao nosso jequitinhonhismo e a nossa jequitinhonheridade. Ser Jequitinhonhense, portanto, não é um mero gentílico. É um estado permanente de pertencimento que, loucamente, ama. É um amor lembrado que mesmo quando não se quer, que mesmo sem querê-lo, que mesmo sem querência, ele nos invade e pulsa forte. E toma conta. E se alimenta. E se indefine. E Jequitinhonha no ser, no ser tão Jequitinhonhense que jequitinhonhanhinhará,eternamente, dentro e fora de nós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário