terça-feira, 21 de agosto de 2012

Encontro inusitado da Escrita com a Educação




Hoje, estive acompanhando a Secretária Municipal de Educação de Jequitinhonha, Vanusa dos Santos Nunes, e a Supervisora Carla Almeida em visita a Escola Municipal da comunidade Porto Alegre, zona rural de Jequitinhonha. Essa visita teve como intuito a aplicação de teste do ciclo de avaliação e, ademais, diagnóstico das necessidades do grupo escolar e realização de levantamento de demandas educacionais. Práticas corriqueiras e burocráticas à parte, havia também a comemoração da semana do folclore. E aí residiu, rosianamente, o bonito e sentido da experiência. A professora Edna Maria Ribeiro utilizou, durante a semana, vários textos que tratavam do imaginário popular. O folclore metodologicamente explorado em sua etimologia antiga, significando, em inglês, “discurso do povo”, “sabedoria do povo”, “conhecimento do povo”. E, entre tantas opções, a docente usou textos que publiquei para a minha coluna “Conversas no Escaler”, do jornal Informativo, para ilustrar a temática aprendida. Lembrei-me das aulas de Prática de Formação e Articulação, da época da universidade. John Dewey dizia que a “escola costuma transmitir idéias inertes”. Inertes, aí, no sentido que não agem. Sempre acreditei na cultura em termos bosianos, ou seja, como trabalho feito pelas pessoas que querem realmente conhecer por dentro os mecanismos, ou da Natureza ou do Estado; no caso, as duas coisas acabam ficando juntas. Concomitantemente, sempre acreditei também, sob o paradigma de Bosi, que existem coisas a serem conservadas, não só objetos como também cerimônias, cultos, festas, músicas...tudo isto é cultura.
O que presenciei ali foi a inércia sendo devorada pelas “sabenças” populares. E a cultura se auto-conservando e se prolongando no mais além das faltas de tentativas de explicá-la. Tive a oportunidade de conversar com os alunos presentes sobre a sereia Iara, moradora do rio Jequitinhonha. E sobre a lenda do Bicho da Fortaleza, da Pedra azul, da Carneira...vi crianças encantadas, vidradas nessas personagens... e vi ainda aquele momento blanchotiano em que “o olhar é atraído, arrastado e absorvido num movimento imóvel e para um fundo sem profundidade.” As histórias se refletiram e ecoaram num fora/dentro, Vale afora. Ali, obtive todas as completas sensações que o dinheiro não paga. Que bom senti-las em casa. O folclore do Vale, ali, provou-me que sobrevive e que permanece tentando se recontar. E a educação, ah! Esta continua nos pregando de suas peças. Bem semelhantes a estas reflexões de Paulo, o Freire:
Educar e educar-se, na prática da liberdade, não é estender algo desde a “sede do saber”, até a “sede da ignorância” para “salvar”, com este saber, os que habitam nesta. Ao contrário, educar e educar-se, na prática da liberdade é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem - por isto sabem que sabem algo e podem assim chegar a saber mais – em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu pensar que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.

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