sábado, 12 de maio de 2012

Cinco Reflexões sobre Política


I
Daqui a alguns meses, começa a campanha eleitoral. Com ela, vem certa enxurrada de candidatos e eleitores seduzidos pelo efeito fascinante do “importante é levar vantagem”. Certamente você, caro eleitor amigo, e você, sapientíssimo candidato, já devem ter se deparado com aquele vizinho imprestável que, de uma hora para outra, virou o sujeito mais prestativo ou com aquele cidadão que passou a fazer do seu carro, lotação, oferecendo carona para todos. Ou ainda com aquele funcionário público que, agora, anda com uma mão pronta para o cumprimento e um tapinha nas costas. Estas e outras figuras oportunistas, que encaram o executivo ou o legislativo como uma fonte de renda por, no mínimo, quatro anos estão espalhadas por aí. Não precisa ser um Hegel, um Tocqueville, um Marx, um Rousseau ou uma Hannah Arendt para perceber isso. Basta ter olhos e querer enxergar. E cá entre nós, redudantemente, como alerta WEIZSÄCKER: “Entre nós, um político profissional não é, via de regra, nem um especialista, nem um diletante, mas um generalista com um saber específico: o de combater o político adversário”. Portanto, uma primeira reflexão se faz pertinente. O político que sabe apenas combater o adversário é aquele que ataca descaradamente porque tem tudo o que esconder e nada o que mostrar.
II
Não devemos nos deixar enganar pelo poder da imagem. Tem muito lobo em pele de cordeiro querendo retornar ao poder. Jequitinhonha não merece mais e não quer administrações retrógradas, catastróficas e incompetentes. O povo, muitas vezes, é enganado com facilidade porque acredita muito mais em imagens do que em sua própria razão, esquecendo-se de que um voto consciente vale mais do que a promessa de um emprego, de uma dentadura, de uma casa ou de um terreno. Quando o interesse individual suprime o coletivo, o desenvolvimento intelectual, político, econômico e social passa a ser privatizado, tornando-se moeda de troca. Lembrem-se da advertência profética de Mateus: “Porquanto, assim como nos dias anteriores ao dilúvio, comiam e bebiam, e não perceberam, senão quando veio o dilúvio, que os levou a todos”. Fica a segunda reflexão: a de que ao invés de comermos e bebermos da ceia dos insensatos ex-governantes, devemos observar os fatos para evitar que esta terra seja invadida pelo dilúvio das más gestões. Como diria Rubem Alves: “a esperança é que o povo prefira a vida ao engodo que se lhe oferece”.
III
A terceira reflexão vem do Príncipe, de Maquiavel. Politicamente, este disse que era fundamental para aquele não “ser justo”, mas “parecer ser justo”. Há muitos maus gestores do passado que, agora, parecem ser justos. Mas, a memória do jequitinhonhense é forte e se lembra dos tempos das vacas magras, no qual nossa terra se assemelhava ao poema “O Jequi Tem Onha”, de Gonzaga Medeiros: “Justiça no vale abunda/como carne nos pastéis,/com milhões gatos pingados/ e um milhão só tem mil réis/ e o povo espera sentado/pela inversão dos papéis”. A política da exceção beneficia poucos e prejudica todos. Durante muito tempo, vivenciamos este tipo de regra. Atualmente, eliminamo-na. E não podemos, de forma alguma, deixar que o povo fique, novamente, esperando pela inversão dos papéis!
IV
O Anjo, quarta reflexão. Há um quadro de Klee que se chama Angelus Novus. Representa um anjo que parece querer afastar-se de algo que ele encara fixamente. Seus olhos estão escancarados, sua boca dilatada, suas asas abertas. O anjo da história deve ter esse aspecto. Seu rosto está dirigido para o passado. Onde nós vemos uma cadeia de acontecimentos, ele vê uma catástrofe única, que acumula incansavelmente ruína sobre ruína e as dispersa a nossos pés, alertou-nos Walter Benjamin. O eleitor jequitinhonhense, nestas eleições municipais, deve ser o anjo da história benjaminiano, encarando o passado e refletindo sobre a catástrofe única que ele deixou. Os resquícios dele estão em toda parte. Devemos lembrar das ruínas desse passado. Do gosto amargo que ele deixou na boca e que não tem nada que ver com o orgulho que o jequitinhonhense sente hoje de sua cidade. Devemos lembrar do nosso hino, que, agora, todos têm orgulho de cantar: “Jequitinhonha cidade querida/Terra que abriga minha vida/Jequitinhonha não esquecerei jamais/Orgulho das Minas Gerais”.
V
O coronelismo político perpetua a gestão esculhambada, a fidalguia arcaica, a submissão servil, a caudilhagem barata, o jogo de interesses fortuitos, a (des)organização agrária ultrapassada, o latifúndio do poder público e a servidão plebeia. Um povo sábio. Um povo inteligente. Um povo esperto luta contra tudo isso. Não podemos nos esquecer da história. Dos antigos coronéis. E dos novos também. O coronelismo é maléfico porque traz consigo o ser servido, obedecido e humilhado por muitos, ensinou-nos Victor Nunes Leal, no seu livro Coronelismo, enxada e voto. Não podemos deixar que os desmandos voltem ao nosso município. Lembrem-se do Marx Weber : “política, portanto, significaria para nós: aspirar à participação no poder ou à influência na divisão do poder seja entre Estados, seja no interior dos Estados entre grupos humanos que ele envolve”. Lembrem-se desta quinta reflexão!

2 comentários:

  1. Parabéns Thiago Machado! Temos que continuar a alertar o povo de Jequitinhonha a respeito do mal que representa o retorno de um catastrófico e amador governo que passamos. O lobo tá ai, travestido de cordeiro. Sumiu por alguns anos, e de uma hora para outra, resolve voltar a nos governar; como se tivesse, na época, desempenhado com maestria sua função de gestor público. Sei que o Jequitinhonhense sabe discernir o que foi péssimo ao que está sendo bom, mas nunca é bastante para continuarmos alerta ao retrocesso. Continue fazendo o papel brilhante de esclarecer ao eleitorado. Estarei aqui sempre atento aos seus posts.
    Abraços!
    Prof. Flaviere Ferreira

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  2. Prezado Flaviere, temos que procurar, em conjunto, o bem comum e o bem-estar da coletividade. E somar esforços nunca é em vão. Enquanto estivermos alerta, eu, você, e tantos outros que se preocupam com o desenvolvimento desta terra, certamente, o maus gestores não terão vez e tampouco voz aqui. Obrigado pelas palavras! Continuaremos atentos!

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