quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Caroline Haurolf: realidade ou ficção?

Em 1857, Gustave Flaubert chocou a sociedade da época ao dar vida à personagem Madame Bovary. Conan Doyle, até hoje, faz muita gente visitar a Baker Street, número 221 B, por conta dos famosos Sherlock Homes e Watson. Nos últimos meses, uma personagem chamou a atenção dos jequitinhonhenses nas redes sociais, criando um mistério maior do que o de Odete Hoitman ou o de Teresa Cristina e sendo mais comentada do que a presença da banda Tarraxinha no carnaval ou do que a volta da Luiza, que estava no Canadá. O nome dela é Caroline Haurolf. Ela nasceu no dia 12 de dezembro e mora em Piracicaba, São Paulo. Adora “causar”, curte um bafão e se intitula a “Evita do sertão”. Seu gosto transita entre a contracultura, a cultura de massa, a cultura burguesa, a cultura popular e a cultura pop. É bastante excêntrica e crítica. Consegue despertar sentimentos antagônicos de amor e ódio. E atua em defesa do respeito às diferenças. Conceitualmente, digo que se situa dentro da perspectiva de mimesis aristotélica e está dividida entre o reproduzido e o inventado. É uma personagem reflexo da pessoa humana e, ao mesmo tempo, construção, cuja existência obedece às leis particulares que regem o texto. Caracteriza-se, segundo noções de György Lukácks, como uma heroína problemática em confronto com o mundo das convenções e do conformismo. Além disso, em concepções fosterianas, encaixa-se como uma personagem redonda, complexa e multidimensional. Transcrevo abaixo a entrevista que realizei, por e-mail, com esta personagem que esconde uma ou um jequitinhonhense sob sua máscara. Será que iremos desvendar o mistério? Antes, é bom pensarmos na frase seguinte de Manoel de Barros: “Noventa por cento que escrevo é invenção. Só dez por cento é mentira”.

TM=1- O francês Jean François Lyotard, no livro “O Pós Moderno”, afirma que após os anos 50, época, segundo ele, pós-industrial, há um grande impacto das transformações tecnológicas sobre o saber. Diz ainda que o cenário pós-moderno é essencialmente cibernético, informático e informacional.Levando-se em conta essas considerações  de Lyotard e considerando que o Facebook, de acordo com dados da Wikipédia, possui mais de 750 milhões de usuários ativos distribuídos por todo o mundo e, concomitantemente, mais de 900 milhões de buscas por mês, gostaria de saber se você considera que o Facebook, como rede social de massa, exerce um impacto sobre o “conhecimento” das pessoas e de que forma tal rede social pode ser usada a favor dos usuários.

CH=Não só o Facebook, mas as redes sociais, em geral, são lugares muito propícios para as conversações, tendo como consequência uma sociedade colaborativa com uma maior disseminação do conhecimento ou qualquer outro tipo de informação, seja ela válida ou não. Por exemplo, nos dias de hoje, não se é necessário comprar um jornal para que se esteja informado. Obviamente que temos a televisão e a rádio, mas, podemos ter acesso a um jornal via internet, através do site do mesmo ou das redes sociais, como o Facebook. Isso se torna interessante no momento que se permite comentar e debater com os outros tais informações, de modo que, estas se tornam mais acessíveis para um maior número de pessoas à medida que são compartilhadas. Assim sendo, numa multidão “hiperconectada”, o conhecimento livre tende a se expandir rapidamente, atingindo um maior número de pessoas. Entretanto, a prática do conhecimento livre traz a reboque uma série de novos paradigmas sobre a propriedade intelectual, liberdade de expressão e políticas de comunicação. 

 TM=2- O nome Facebook quer dizer, a grosso modo, e em inglês bastante torto, face(eu), book (livro), o que significa uma espécie de livro da vida. Por que você escolheu escrever “o livro da vida” de uma identidade forjada ao invés de escrever o “seu próprio livro da vida”?  

CH=Não optei por escrever algo que não fosse sobre mim, sobre meus sentimentos, sobre o que eu penso da vida, das pessoas, do mundo que me cerca, e, principalmente, sobre minha adorada cidade. Meu perfil deixa de ser “fake” no momento que eu expresso nele as minhas própias opiniões e convicções. Talvez  eu, Caroline Rauholf do Facebook e do Orkut, seja um alterego, mas isto não faria de mim uma personagem, muito menos que minha identidade fosse forjada, pelo contrário, tudo que escrevi, postei, comentei desde o Orkut até migrar para facebook foi advindo de mim mesma. No entanto, posso dizer, nesta confusão de personalidades, que Caroline Rauholf foi um dos capítulos mais cômicos que eu ja escrevi no meu livro da vida. Vamos ver quantas páginas ele ainda terá e se alguém desvendará o mistério antes do final.  

TM=3- De onde vem o nome Caroline Haurolf e qual o significado da gravura que você escolheu para ser seu perfil no Facebook? CH=Ah! Meu nome! Mas se eu contar, entrego o jogo!Brincadeira!O sobrenome vem da mistura do sobrenome de um Dj e remixer austríaco (Peter Rauholfer), muito conhecido na cena eletrônica mundial (todos que me acompanham no face sabem que eu adoro bater cabelo na buatchen, neahn gentchynnn), com o meu sobrenome que é Hautolf. As gravuras surgiram assim, eu sou uma grande admiradora do Alexander McQueen, tanto como pessoa quanto artista, por isso, quando criei meu perfil inicialmente no Orkut, escolhi entre suas obras, três que mais admiro, que são a arte da capa do álbum Homogenic (1997) da cantora Björk, uma imagem do fotógrafo Nick Knight da modelo Devon Aoki vestindo um McQueen de corte extravagante, com um alfinete na testa e um olho de vidro, e um registro pop de McQueen e Isabella Blow  por David LaChapelle, publicado na revista Vanity Fair no final dos anos 90  (aquela fotografia do castelo pegando fogo).   

TM=4- Segundo Theodor Adorno, no livro “Indústria Cultural e Sociedade”, a cultura contemporânea a tudo confere um ar de semelhança. O que me chamou a atenção na personagem que você criou é que ela procura ser diferente (através de comentários polêmicos, ironias, jocosidade, idioleto, besteiras e etc’s) em uma cultura de massa em que tudo parece primar por ser idêntico. Por quê? 

 CH=Eu sabia que se chegasse usando uma linguagem denotativa, usando a informação bruta com o único objetivo de informar, sem produzir nenhum tipo de emoção a quem estivesse lendo o que eu postava, jamais chegaria a ter sequer um amigo, e se tivesse, seria apenas para encher linguiça. Assim, deixei que tudo acontecesse de forma o mais absolutamente natural possível, sendo eu mesma, usando da minha própria personalidade. Comecei, então, a escrever exatamente da forma que eu falava com meus amigos, usando uma linguagem urbanizada, com termos muito frequentes na comunidade gay e entre os estudantes de moda, colocando em questão as minhas idéias, opiniões, pontos de vistas, pensamentos, futilidades, entretenimento, sexo... Desta forma, comecei a criar laços com meus amigos virtuais e comecei a tratá-los como os meus melhores amigos (sim eu os considero). Tentei dar atenção a todos, interagindo nas suas postagens, comentando fotos, e com o tempo eles foram abrindo espaço pra mim e passaram a interagir comigo também. Isso acabou sendo essencial para concretizar o que eu realmente mais desejava: tentar de alguma forma estimular os meus amigos a criarem um senso crítico, serem mais atuantes nas questões relacionadas a cidade, e que parassem de endeusar prefeitos e vereadores e passassem a cobrar mais deles como nossos funcionário. Critiquei muito o que eu considero politicagem em Jequitinhonha e sei que isso acabou causando a ira de alguns, mas admiração de outros. Mas o melhor de tudo, é que criei amigos e voltei a ter um laço com minha cidade. 

 TM=5- Jequitinhonha é alvo da maioria de seus comentários. E você parece conhecê-la muito bem. Qual a importância desse município em sua vida e para as suas criações? 

CH= Sim, claro que eu conheço “Jeki”. Nasci nesta bela cidade, estudei nas Escolas Estaduais Antonieta Bias Fortes, Epaminondas Ramos e São Miguel, e como todo cidadão ingênito de Jequitinhonha, carrego em mim um grande orgulho de ser do Vale, principalmente, do nosso município. Eu vivi Jequitinhonha de todas as formas possíveis e sou apaixonada por esta terra.  Porém, aos dezoito anos de idade, passei no vestibular, depois no mestrado, doutorado e comecei a perder o contato com os amigos, com o folclore, a cultura, com estas riquezas que só quem é e conhece o vale sabe o que estou dizendo. Então, num belo dia, super estressada no final do meu mestrado, escrevendo minha dissertação, resolvi criar um perfil no Orkut e comecei a mandar convites de amizades para todos que eram naturais de Jekita ou que adotaram a cidade como lar, com intenção de estreitar os laços novamente. Queria notícias, ver fotos das nossas paisagens, rever pessoas, conhecer novas pessoas e, mesmo estando longe, interagir com as questões sociais, políticas, ambientais e econômicas da cidade. Desta forma, comecei a expor meus pontos de vista e minhas opiniões, só que do meu jeito, humorado, saliente, às vezes irônico e muitas vezes direto. Falei muita coisa que muita gente tinha vontade de dizer, mas não tinha coragem por está preso a um emprego político ou algo afim. Penso que, talvez tenha sido isso que de certa forma cativou algumas pessoas. Só que, além disso, comecei a escrever sobre meu dia a dia também, sobre “baladans”, “buatchens”, “bofes”, “boy magia.sedução”, “babados”, confusões” e sobre o mundo gay que eu adoro e defendo a duras penas, tudo isso usando uma linguagem coloquial, urbana, “internética”, cheia de neologismos e principalmente usando termos da “Aurélia” (linguagem gay e também muito usada no mundo da moda). Logo depois migrei para o Facebook e continuei postando, comentando, discutindo, discordando, enfim, sendo eu, mesmo que minha foto não aparecesse no meu perfil. Mas, nunca imaginaria que fosse repercutir tanto assim. 

 TM=6- Você tem hoje, aproximadamente, 519 amigos no Facebook. Qual a mensagem que deixaria para eles. 

 Estudem, é uma das maneiras mais dignas de se vencer na vida, corram atrás daquilo que vocês almejam para o futuro e não se acomodem jamais. É melhor ter algo concreto pra vida inteira do que se humilharem por uma incerta estabilidade de quatro anos. E nunca, jamais abandonem nossa amada Jequitinhonha.Respeitem as diferenças. Pois, a suprema felicidade da vida é a convicção de ser amado por aquilo que você é, ou melhor, apesar daquilo que você é.  (Victor Hugo) 

TM= 7- Agora, o povo quer que você acabe com o mistério: qual a sua verdadeira identidade?

Alokaaaaaa! Páraaa, páraaa tudo... MoOoOorta que eu vou contar pra vocêins. Ahhhh! meus amores, vocêins vão ter que descobrir sozinhos. O que posso dizer é que euzinha, ao contrário do que a maioria pensa, sou phêmea, muito phina, sempre trabalhada no salto alto e na sensualidadchy e não faço a linha humildchy, neahnn. Ah!!! Beijo na boca pra quem descobrir.

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