sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Violino em Cordas de Prosa

De noite ainda vejo o violino quebrado sobre a cama. Minhas palavras vastas escorrem em cordas de voluptuosidade, afagando geometricamente tuas coxas de marfim. O nosso poema, Violino Maria, de Juan José Ceselli, ainda me olha solitário. Solitário e perfumado. Solitário e uníssono. Sua voz ainda está nele, perfumada. Seus brincos ainda estão nos meus bolsos, gastos. Os dois, ambiguamente. Não sei. Talvez, eu jogue dominó hoje. E olhe a lua pela sacada, imaginando que tua bunda seja uma peça de Cacilda Becker. Ouço o violino, oco, oco, oco. Abro o baú no sótão. Só há uma boneca estilhaçada. Os braços dela lembram os seus: um cometa Halley. Ouço também nosso grilo de estimação. Escutei-o a noite inteira. Montes Claros faz calor. Sei que é mesmice. Lembra quando falávamos banalidades? Nunca enchi o saco desta límpida loucura que vivemos, das nossas brincadeiras de vidro. Ontem, fui à rua dos cataventos. Nosso último beijo ficou lá. Lá deixei também meu último verso pra você. Aquele mesmo que escrevi em sua lápide secreta: há tanta pedra que procuro o calor de seu líquido sarcástico.

2 comentários:

  1. Este seu texto me deu saudade como nunca a senti.. do violino que eu não tenho; dos poemas que eu não fiz; do beijo que eu não dei... da Palavra.. que eu jamais consegui alcançar!

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  2. Elaine, como sempre, suas palavras têm a vocação (etimologicamente, em significado de chamado)da gentileza, uma beleza próxima e própria do que seria parecido com pureza. Beijo! Obrigado!

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